“Quem não se comunica se trumbica”
Um dia desses, conversava com minha mãe sobre a frase do famoso psicanalista francês Jacques Lacan: “ Você pode saber o que disse, mas nunca o que o outro escutou”. Reflita a respeito por um instante.
Eu entendo o que ele quis dizer e sei que não está errado, mas ainda assim, essa é uma frase que me causa inquietação. Como advogada de família e sucessões, vejo que a má comunicação é o passo inicial para os rompimentos, discussões e brigas que levamos para o judiciário mais tarde.
Os famosos processos de inventário intermináveis são, na esmagadora maioria das vezes, fruto da comunicação ineficiente entre os herdeiros:
Os sentimentos e necessidades não são expressos com clareza, dando lugar às mais diversas
interpretações que também tendem a não ser comunicadas de forma clara. Diante disso, o
interlocutor inicial se fecha e age de forma reativa, encerrando a tentativa frustrada de diálogo.
Pronto, está colocado mais um tijolo no muro que os separa, o que significa dizer que também
estamos um pouco mais distantes de uma solução rápida, amigável e satisfatória para ambos.
É nesse ponto que a frase Lacaniana me inquieta: Ela é comumente utilizada para justificar a má comunicação e/ou terceirizar a responsabilidade sobre aquilo que não foi entendido. É verdade que não temos como adivinhar o que o outro entendeu, mas podemos perguntar, não é mesmo?
Não é possível garantir que o outro entenda exatamente o que queremos dizer, mas podemos
cuidar para melhorar a comunicação, tornando-a mais clara e eficiente. É a partir desse pensamento de autoresponsabilidade que tenho buscado me comunicar em trabalho como advogada, nas equipes que lidero e em meus relacionamentos.
Separei aqui 10 pontos que têm me norteado nestes últimos anos. Estou certa de que serão úteis para você também:
1° º: Ser um bom comunicador é diferente de ser um bom “falador”. Você não é um bom
comunicador, a menos que saiba ouvir! (Leia de novo!)
2º: Avalie a situação com neutralidade e empatia para com os envolvidos.
3º: Identifique seu sentimento e necessidade naquele contexto.
4º: Reflita sobre as possíveis formas de satisfazer essa necessidade.
5º: Expresse com clareza o que você precisa e, se possível, explique o por que.
6º: Em uma discussão, prefira usar a 1ª pessoa: Dizer como você se sentiu diante de uma
determinada atitude é mais eficiente do que apenas apontar o erro.
7º: Investigue se seu interlocutor compreendeu o que você disse (você só conseguirá fazer isso se aprender a ouvir).
8º: A boa comunicação é a melhor forma de encontrar e/ou criar boas soluções.
9º: A boa comunicação é o caminho mais eficaz para ter suas necessidades atendidas.
10º: Leia o 1º ponto novamente!
Alerta: Não vamos fingir que tudo isso é fácil e natural. A maioria de nós aprendeu a se comunicar de outra maneira e não se muda velhos hábitos de um dia para o outro. Por isso, seja intencional, tenha paciência, persevere e observe uma grande mudança ao seu redor!
Por Priscila Salles – Imagem: de Peggy und Marco Lachmann-Anke por Pixabay
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