Especialistas recomendam atenção básica e telerreabilitação para atender complicações pós-Covid
Deputado defende regulamentação definitiva da telemedicina
Levantamento mostra que, após a internação em UTI, 71% dos pacientes pós-Covid apresentaram algum tipo de limitação
O aumento dos casos de pacientes com sequelas e outras complicações após superarem a Covid-19 levou médicos e gestores públicos a recomendarem o fortalecimento da rede de atenção básica à saúde e das modalidades de teleconsulta e telerreabilitação.
Em debate virtual nesta terça-feira (4) na Câmara dos Deputados, promovido pela Comissão Externa de Enfrentamento à Covid-19, especialistas manifestaram preocupação sobretudo com os casos de acidente vascular cerebral agravados pela própria Covid ou pelo isolamento social que atrapalha a prevenção e provoca demora no atendimento dos sintomas mais leves.
A vice-presidente do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), Cristiane Pantaleão, cobra a formação de um grupo de trabalho no Ministério da Saúde a fim de reforçar a orientação dos profissionais da atenção básica diante do aumento da demanda.
“Se antes a gente já sabia que a atenção básica deve resolver 85% dos problemas, agora mais do que nunca. O número de trombose vem aumentando de maneira exagerada e o paciente, na maioria das vezes, já chega ao hospital em uma situação muito ruim. A gente tem muitos pacientes morrendo de parada cardíaca com complicações pós-Covid”, disse Cristiane Pantaleão.
O Conasems já elaborou um guia para auxiliar as prefeituras na manutenção da rede de atenção básica à saúde, mas admite a fragilização do trabalho diante dos profissionais contaminados com o coronavírus ou deslocados para outras unidades sobrecarregadas de pacientes com Covid-19.
Tecnologia
Outra estratégia defendida pelos especialistas é o uso da tecnologia para auxiliar na recuperação dos pacientes. Um levantamento do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) justifica a medida: nove meses após a internação em UTI, 71% dos pacientes pós-Covid apresentaram algum tipo de limitação nas atividades diárias, 52% continuaram a relatar dor e desconforto, 56% apresentaram ansiedade e depressão e 64% mantiveram quadro de dispneia, ou seja, dificuldade de respirar.
Professora de fisiatria na Faculdade Medicina da USP, Linamara Battistella mostrou como a telerreabilitação e o telemonitoramento podem ajudar na recuperação desses pacientes.
“Esse telemonitoramento envolve uma série de bases e aplicativos principalmente para os pacientes com maior risco de complicações e dificuldade de transporte. Com ele, a gente pode manter, com um cuidador a distância, as orientações que a equipe médica e multiprofissional fornece, dando o atendimento e o esclarecimento que mantêm o paciente acolhido, o que é muito importante”, disse.
Prevenção ao AVC
Em nome da eficácia da telerreabilitação, os especialistas defendem que as orientações sejam multiprofissionais, envolvendo médicos, nutricionistas e fisioterapeutas. A Rede Brasil AVC também reforça as estratégias de manutenção do atendimento hospitalar prioritário e de oferta de telereabilitação para prevenir o acidente vascular cerebral, segunda maior causa de mortes no país.
A neurologista na Clínica Neurológica de Joinville Carla Cabral Moro lembrou que o tratamento dos casos leves previne 80% do agravamento da doença. A campanha “#AVC, não fique em casa” reforça o recado de que, mesmo diante do necessário isolamento social, as pessoas devem procurar atendimento médico imediato diante dos primeiros sintomas.
Integrante da Associação Brasileira de Neurologia, Marcos Lange recomendou a “prevenção primária”, baseada no controle do tabagismo, da obesidade e da hipertensão.
Graves sequelas
Já o coordenador-geral de Saúde da Pessoa com Deficiência do Ministério da Saúde, Ângelo Gonçalves, defendeu a teleconsulta e afirmou que, em nenhum momento, houve recomendação para a redução do atendimento na rede de atenção básica aos pacientes com AVC
Quanto à Covid-19, Gonçalves citou estatística que aponta 80% de casos leves e moderados e 20% de casos graves, dos quais 15% com necessidade de suporte de oxigênio. Segundo ele, há um percentual considerável que apresenta graves sequelas pós-Covid.
“E 5% desenvolvem complicações como falência respiratória, choque, sepse, tromboembolismo e falência múltipla dos órgãos. Muitos desses pacientes acabaram entrando na nossa rede de dados da pessoa com deficiência, apresentando algumas características, como distúrbios respiratórios, cardiovasculares e neurológicos”, observou.
Regulamentação
No ano passado, Câmara e Senado aprovaram norma (Lei 13989/20) que permite a telemedicina no Brasil, mas somente durante a pandemia. Organizador do debate na Comissão Externa de Enfrentamento à Covid-19, o deputado Pedro Westphalen (PP-RS) defende uma regulamentação definitiva.
“Há uma convergência em relação à telemedicina e à telessaúde para se levar aos mais longínquos lugares do Brasil a experiência e o tratamento adequado dessa pandemia, da qual não sabemos nem 50% do que acontece no pós-pandemia. A telemedicina e a telessaúde a distância e com qualidade vieram para ficar. O importante agora é regulamentar para que sejam bem utilizadas”, disse.
Westphalen também anunciou que vai sugerir ao Ministério da Saúde a criação de um departamento específico para tratar da recuperação dos pacientes pós-Covid.
Fonte: Agência Câmara de Notícias – Imagem: Iano Andrade / CNI
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