11 características de um trauma não resolvido

trauma não resolvido

Os traumas não resolvidos são nós da experiência difíceis de lidar. Ao invés de processá-los e curá-los, nós os reprimimos e os guardamos em nossas “caixas pretas” mentais. A partir de então, desencadeia-se toda uma série de sintomatologias.

Todos nós estamos expostos, pelo menos em algum momento, a eventos potencialmente traumáticos. A perda de um ente querido é um exemplo disso. Estamos falando de impactos emocionais muito fortes que temos dificuldade em superar, aceitar e, claro, curar. Porém, acabamos quase sempre superando —sem esquecer— essa experiência adversa.

Agora, uma parte da população carrega o que conhecemos como um trauma não resolvido. São estados em que a mente acaba empurrando, enterrando aquela experiência para as camadas internas mais profundas, para tentar seguir em frente. Porém, nem sempre é possível retomar a existência; a funcionalidade completa e saudável não é alcançada em todos os casos.

Frases como “todo mundo sofre na infância e segue em frente” costumam ser ditas, “tem gente que sofreu mais do que eu e continua aí”. Minimizar o evento traumático sofrido, longe de funcionar, apenas torna crônico o sofrimento inconsciente. Tanto que, com o tempo, acabam aparecendo uma infinidade de sintomas associados. Nós os analisamos.

Traumas não resolvidos podem nos perseguir ao longo de nossas vidas de maneiras tão evidentes que acharíamos difícil associar a esse evento adverso do passado. Problemas musculoesqueléticos e digestivos ou explosões de raiva são exemplos.

Distúrbios do sono noturno são efeitos comuns de traumas não resolvidos.

Características de um trauma não resolvido que você deve conhecer

Em 2017, foi realizado um estudo no qual colaboraram as principais universidades do mundo. O objetivo foi conhecer a exposição a eventos traumáticos da população em geral. Os dados foram reveladores: mais de 70% das pessoas entrevistadas relataram ter vivenciado um evento traumático.

Isso reafirma a ideia de que a grande maioria de nós é vulnerável a sofrer esse tipo de experiência. No entanto, nem todas as pessoas lidam com o trauma da mesma maneira. Algumas são mais resistentes e outras são mais vulneráveis. De fato, é muito comum chegar à idade adulta abrigando no universo psicológico a marca de um evento doloroso ocorrido na infância.

Da mesma forma, para ter uma perspectiva maior do que significa não enfrentar ou curar esses eventos, é importante lembrar o que são esses tipos de eventos. Um trauma psicológico é uma resposta que enfraquece nossas capacidades adaptativas, emocionalmente, cognitivamente, fisicamente e também socialmente. Tudo o que nos torna seres humanos se quebra.

Agora vamos ver que efeitos esta circunstância pode ter sobre nós.

  • Sufoco.
  • Tontura.
  • Suor frio.
  • Tremores.
  • Palpitações.
  • Sensação de perder o controle.
  • Pensar que você está prestes a morrer.

2. Sentimentos de raiva e vergonha

Entre as características mais comuns de um trauma não resolvido está o sentimento de vergonha. Pode chamar a atenção, mas são muitas as vítimas de situações de abuso ou violência que projetam em si emoções autodestrutivas. Elas podem se sentir culpados, impotentes por não terem agido ou, pior ainda, sentir-se responsáveis pelo que aconteceu.

Por outro lado, uma emoção muito recorrente ao lidar com traumas é o golpe de raiva. É a marca da dor, da indignação e da impotência. É um estado que pode explodir a qualquer momento, dificultando inclusive relacionamentos sociais e afetivos gratificantes.

O eco da depressão que vem e vai

Sabemos que ter sofrido um trauma na infância aumenta o risco de desenvolver um transtorno depressivo na vida adulta. Além do mais, são estados de grande desgaste emocional que vão e vêm, muitas vezes traçando o que conhecemos como transtorno depressivo persistente (distimia). Ou seja, são condições mentais que podem aparecer alguns meses, diminuir e aparecer depois.

4. Pesadelos e distúrbios do sono

Os pesadelos são um mecanismo que o cérebro usa para tentar processar o trauma. Porém, nessa tentativa, o que a pessoa experimenta é vivenciar novamente o evento doloroso, e isso gera ainda mais desgaste físico e mental.

Dissônias ou distúrbios associados à quantidade e qualidade do sono noturno são condições sofridas por grande parte daqueles que lidam com essas circunstâncias.

 Hipervigilância

Entre as características de um trauma não resolvido está o aumento do estado de alerta ou hipervigilância. Essa realidade não deixa de ser mais um efeito do impacto do próprio evento adverso em nosso sistema nervoso central. Isso leva a pessoa a um estado de alerta persistente, alimentando a sensação de que sempre há um perigo à espreita.

6. Doenças psicossomáticas

As doenças psicossomáticas são sintomas físicos diretamente ligados a alguma origem psicológica. É importante enfatizar esse ponto por causa de um fato óbvio. Há muitas pessoas que podem passar anos tentando encontrar a origem de uma infinidade de distúrbios físicos e orgânicos, para os quais não há um diagnóstico claro.

Traumas podem estar por trás de muitos dos seguintes problemas:

  • Alergias.
  • Enxaquecas.
  • Insônia.
  • Dor no peito.
  • Cansaço persistente.
  • Alterações digestivas.
  • Dor musculoesquelética.
  • Pressão alta e cortisol elevado.

Os traumas psicológicos podem ser tratados e curados na terapia psicológica. A terapia EMDR (reprocessamento e dessensibilização através do movimento ocular) é um modelo amplamente utilizado nesses casos.

7. Baixa autoestima e sentimentos de inutilidade

“Não valho nada”, “Não mereço ser amado por ninguém”, “Nunca vou conseguir o que me proponho”, “Sou um fracasso “. Essas ideias avassaladoras são a voz daquele trauma não resolvido que mina a autoestima, a autoimagem e todo senso de competência. Sentimentos de inutilidade levam a pessoa a estados muito problemáticos em decorrência de acontecimentos dolorosos não sanados.

8. Comportamento evitativo

A evitação é aquele mecanismo estimulado pelo medo e pela ansiedade que nos impede de ter uma boa qualidade de vida. Qualquer circunstância que desperte algum estresse ou insegurança na pessoa acabará sendo evitada, não enfrentada. Isso pode fazer com que percam oportunidades de trabalho e tenham muitos problemas nos relacionamentos pessoais.

Os transtornos de conduta alimentar podem ocultar algum trauma da infância.

9. Transtornos de conduta alimentar (TCA)

A Universidade de Aalborg, na Dinamarca, encontrou uma relação significativa entre experiências traumáticas e transtornos  de conduta alimentar (TCA). Essa é uma correlação intuída há algum tempo. No entanto, sabemos agora que aqueles pacientes que sofreram abuso sexual na infância têm um risco maior de sofrer bulimia, anorexia, etc.

10. Comportamentos autolesivos

Entre as características de um trauma não resolvido, é comum ver pessoas que apresentam comportamentos autolesivos. Cortes, tricotilomania, dermatilomania… Esse tipo de comportamento busca liberar momentaneamente a carga de angústia latente, mas a longo prazo configuram situações muito debilitantes.

11. Dificuldade em lidar com problemas

A vida se torna muito complicada e até ameaçadora quando não resolvemos um trauma interno. As emoções estão à flor da pele e o cérebro apresenta alguma alteração nas suas funções cognitivas. É difícil aplicar uma mentalidade mais reflexiva e, em vez de analisar os problemas com calma, se reage de forma impulsiva contra eles ou são evitados.

Nota final

Caso você se sinta identificado com várias dessas dimensões, o encorajo a buscar ajuda especializada. Os traumas, independente de sua origem, são tratados e a pessoa pode recuperar sua qualidade de vida. Para isso, existem abordagens baseadas na ciência com alta eficácia. Não hesitemos em contar com o apoio do nosso entorno e dar o passo para um processo terapêutico.

Publicado em: A Mente é Maravilhosa – Imagens: Reprodução.

indicador laranja apontando

Leia também:

Bibliografia:

  • Benjet, C., Bromet, E., Karam, E. G., Kessler, R. C., McLaughlin, K. A., Ruscio, A. M., Shahly, V., Stein, D. J., Petukhova, M., Hill, E., Alonso, J., Atwoli, L., Bunting, B., Bruffaerts, R., Caldas-de-Almeida, J. M., de Girolamo, G., Florescu, S., Gureje, O., Huang, Y., Lepine, J. P., … Koenen, K. C. (2016). The epidemiology of traumatic event exposure worldwide: results from the World Mental Health Survey Consortium. Psychological medicine46(2), 327–343. https://doi.org/10.1017/S0033291715001981
  • Keyes KM, McLaughlin KA, Demmer RT, Cerdá M, Koenen KC, Uddin M, Galea S. (2013). Potentially traumatic events and the risk of six physical health conditions in a population-based sample. Depression and Anxiety, 30:451–460. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4180235/
  • Norris, F. H. (1992). Epidemiology of trauma: Frequency and impact of different potentially traumatic events on different demographic groups. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 60(3), 409–418. https://doi.org/10.1037/0022-006X.60.3.409
  • Ogle, C. M., Rubin, D. C., & Siegler, I. C. (2014). Cumulative exposure to traumatic events in older adults. Aging & mental health18(3), 316–325. https://doi.org/10.1080/13607863.2013.832730
  • Spitzer, C., Barnow, S., Völzke, H., John, U., Freyberger, H. J., & Grabe, H. J. (2009). Trauma, posttraumatic stress disorder, and physical illness: findings from the general population. Psychosomatic medicine71(9), 1012–1017. https://doi.org/10.1097/PSY.0b013e3181bc76b5

0 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Enviar Mensagem!
Estamos Online!
Olá! Contate-nos!